quinta-feira, 17 de setembro de 2009

PARA O AMIGO JOSÉ CLÁUDIO PEREIRA NETO

Reginaldo Benedito Dias
Zé. Zezinho. Zé Cláudio. Zé Pereira. José Cláudio. José Cláudio Pereira Neto. Essas eram as muitas formas de que as pessoas se utilizaram para fazer referência a José Cláudio. Alguns chegaram a chamá-lo de Dr. José Cláudio, em provável deferência ao fato de ter se tornado prefeito ou em referência ao seu diploma de advogado.
Como “Pereira”, sobrenome ibérico, José Cláudio não era conhecido. Entretanto, principalmente no futebol ou nas pescarias, havia amigos que gostavam de chamá-lo de “Zé Pereira”. A pronúncia criava uma cacofonia, as palavras se fundiam e tinha-se a impressão de que era um nome só, Zepereira.

Zé. Essa era, provavelmente, a forma mais corriqueira de os amigos se referirem a José Cláudio. E ele, pelo que se percebia, gostava muito. Era econômico e expressava sua genuína simplicidade de homem do povo. Mesmo quando exercia autoridade pública, quando não se encontrava em situações que exigiam formalidade e protocolo, era comum ser tratado dessa maneira pelos amigos e correligionários. Em casa, ele era o Zezinho. O diminutivo decorria tanto das relações afetivas entre familiares quanto do fato de ele, no fim das contas, ter o mesmo nome do avô.

Na vida de um homem público, o que conta mesmo é a forma como a população faz referência a ele. Do ponto de vista da propaganda eleitoral, o nome composto “José Cláudio” sempre teve boa sonoridade e recepção popular. Era assim que, em campanha ou depois de eleito, a população costumava, espontaneamente, chamá-lo. Com menos distanciamento, era chamado, popularmente, de “Zé Cláudio”.

Cláudio, nome latino, vem da linhagem dos estadistas romanos da época dos césares. Na família de José Cláudio, tratava-se de um nome recorrente. Cláudio, além do nome do avô, estava também no nome dos tios e de seu pai, Raimundo Cláudio. Para manter a tradição, seus irmãos também foram assim batizados.

José, como se sabe, é o nome mais popular, derivado do personagem bíblico que desposou Maria. Tal foi a popularidade do patriarca da “sagrada família” que, até recentemente, cultivava-se o hábito, quando não se sabia o nome de alguém, de chamá-lo de “Seu José” ou “Zé”.

Mas havia outro José na Bíblia, no Antigo Testamento, o filho de Jacó e Rachel. Segundo a tradição bíblica, José foi nomeado pelo faraó, após decifrar seus enigmáticos sonhos, para administrar o Egito por um período de fartura e preparar o país para os “sete anos de vacas magras”. Situação diferente viveu José Cláudio, filho do Sr. Raimundo e de D. Aparecida, que herdou a prefeitura de Maringá em crise, dilapidada pelo esquema de corrupção, ou seja, tinha de enfrentar o tempo das vacas magras e preparar a cidade para os tempos de fartura. Com humildade incomum, dizia que sua única ambição era devolver a dignidade ao exercício do cargo de prefeito. Foi muito além disso. Se sua trajetória não fosse interrompida tão precocemente, teria chegado muito longe. A história lhe fará justiça.

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Maringá PR

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A repressão travestida de proteção

Luiz Fernando Rodrigues*

Como você se sentiria se fosse abordado/a pela polícia por circular em um espaço público fora do horário determinado por lei? Se você respondeu que se sentiria incomodado/a, há de concordar comigo que a lei do toque de recolher enfatiza um preconceito, ou seja, qualquer pessoa que seja abordada por uma autoridade policial se sente criminalizada. É o que estão tentando fazer com os jovens e adolescentes.

Criar leis para recolher o cidadão (seja adolescente, jovem ou adulto) de um espaço que é público é assumir a incompetência das autoridades frente aos problemas de violência e (in)segurança que vivemos hoje, pois o espaço público já não é mais um local adequado para convivermos. Quando a lei é personalizada para o jovem ou adolescente, isso se torna ainda mais grave: estamos transferindo a este jovem ou adolescente a culpa por ele não poder estar ou circular por determinado local.

O espaço público é o local de construção da identidade, onde o/a jovem tem a oportunidade de entrar em contato com o diferente e, mesmo diante de conflitos, construir sua personalidade, é o espaço da felicidade do jovem. Quando criamos leis no sentido de privá-lo desta convivência, estamos subsidiando uma prática que, infelizmente, tem sido comum e que é apontada como uma das principais causas da violência: o individualismo. É no ambiente privado, ou seja, sem o contato com o diferente, que se cria este sentimento de que o diferente deve ser encarado como nocivo.

Outro fator que deve ser levado em consideração é o de que a violência está mais presente no espaço privado (doméstico) do que no espaço público e que, mesmo no espaço público somente 0,06% dos crimes contra a sociedade são praticados por jovens e adolescentes. Então uma pergunta é inquietante: se somente uma pequena parte dos jovens/adolescentes são responsáveis por crimes e a maior parte da violência começa dentro de casa, porque privá-los do uso dos espaços públicos e criminalizar toda uma geração?

Um dos argumentos mais utilizados é de que a opinião pública apoia esta iniciativa. Cabe analisar verdadeiros crimes cometidos por autoridades em nome da opinião pública: o governo nazista de Hitler, por exemplo, estabeleceu toque de recolher aos judeus e depois os matou em um genocídio cruel condenado, hoje, por todos. Também o governo americano, na mesma época, restringiu acessos a imigrantes de outras etnias. Preocupa-me quando discutimos temas como toque de recolher e a redução da maioridade penal como se fossem a resolução de todos os problemas de violência que assolam a sociedade, tudo isso em nome da opinião pública. Talvez dentro de alguns anos estejamos discutindo formas de também eliminar a juventude, fazendo com que as pessoas nasçam já adultas ou que antes de nascer, o cidadão seja preso porque ele tem genes que o definem como um possível criminoso no futuro.

Estabelecer leis que suprimem direitos conquistados a partir de lutas históricas é, com certeza, um retrocesso da democracia, uma verdadeira ditadura, onde o estado (representado pelos poderes legislativo, judiciário e executivo) por incompetência e com o apoio de pais que não cumprem com suas responsabilidades para com seus filhos/as, estabelece quem e quando se deve ir a determinado local e horário.

Com certeza este não é o caminho. A verdadeira saída para o problema da violência entre os jovens e adolescentes é a efetivação do ECA enquanto lei que protege e que garante penalidade àqueles que o infringem (tanto pais como adolescentes infratores e até agentes públicos) e a construção de políticas públicas para a juventude, criando espaços públicos adequados às práticas culturais, esportivas e educacionais, formando verdadeiros cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.


* administrador, educador, dirigente da APP Sindicato Maringá e faz parte da equipe de assessoria da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Maringá
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Luiz Fernando Rodrigues
(44) 9973-9828 / (44) 3029-5186
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quarta-feira, 29 de julho de 2009

MANIFESTO DA FEDERAÇÃO DAS APAES DO PARANÁ

Curitiba, 06 de Outubro de 2007.
Ofício Circular nº. 052/2007

Ao setor de Redação das Emissoras de Radio e Televisão e dos Jornais do Estado do Paraná

A Diretoria Executiva, o Conselho de Administração e o Conselho Fiscal da Federação das APAEs do Paraná, reunidos em Assembléia no dia 06 de outubro de 2007, na cidade de Campo Mourão, decidiram aprovar um Manifesto Público, em discordância ao documento elaborado pelo Ministério da Educação - MEC denominado: “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, datado de setembro de 2007.

No documento, o MEC, quer acabar com as Escolas Especiais, transformando-as em Centros de Atendimento, além de que não criará outras escolas especiais no país, onde ainda milhares de alunos não foram inseridos no Ensino Especial.

A Federação das APAEs do Paraná, preocupada com o atendimento de mais de 30.000 alunos matriculados nas Escolas Especiais mantidas pelas APAEs do Estado do Paraná, não aceita os termos desta Política do MEC, pois as APAEs do Paraná mantém escolas que não são escolas comuns, mas são escolas regulares. Além disso, temos projeto político pedagógico; atendemos alunos com deficiências; todas as leis em vigor nos permitem que funcionem como escolas especiais; os currículos atendem as necessidades específicas.

Não queremos ser vistos como fora do sistema educacional.

Não somos vilões e nem inimigos, as APAEs existem há 53 anos, fazendo o nosso papel, inclusive o da inclusão.

Queremos ainda que a inclusão aconteça em todos os setores da sociedade.

Cópia do manifesto abaixo, conforme decisão, do movimento Apaeano do Paraná, será enviado a todos os deputados federais e senadores pelo Paraná, solicitando apoio para que o MEC reveja a Política da Educação Especial, pois precisamos é de apoio como Organização Não Governamental, filantrópica e sem fins lucrativos, que há décadas luta pelos direitos das pessoas com deficiências, educando-as e assistindo-as, e procurando sempre fazer a sua inclusão social.

“MANIFESTO PELOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E DE SUAS FAMÍLIAS”
Prezado (a) Senhor (a)

O Movimento Apaeano, formado por entidades que há mais de 50 anos atuam na busca pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência, vem solicitar o apoio para a correção de um equívoco que poderá causar o fim das escolas especiais no Brasil. Referimo-nos a alguns aspectos da nova “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, divulgada recentemente pelo Ministério da Educação.

Este documento desconsidera e desvaloriza as escolas especiais como APAEs, Pestalozzis, escolas de surdos, cegos, autistas, paralisados cerebrais, entre outras deficiências, sem levar em conta que estas instituições vêm desenvolvendo um excelente trabalho na oferta de educação especial a milhares de brasileiros.

Em três momentos, o Ministério da Educação elimina as escolas especiais de sua nova Política:

NÃO SERÃO CRIADAS NOVAS ESCOLAS ESPECIAIS.
Ou seja, 3.500 municípios brasileiros que ainda não possuem escolas especiais ficarão sem qualquer atendimento nesta área para as pessoas com necessidades de desenvolvimento mais acentuadas. Isto significa negar o direito à educação, pois um grande percentual de alunos com deficiência dependem de atendimento especializado na área da educação e este trabalho vem sendo prestado pelas escolas especiais.

TRANSFORMAR AS ESCOLAS ESPECIAIS EXISTENTES EM CENTROS DE ATENDIMENTO.
Esta medida transforma as escolas especiais em centros de apoio aos alunos. Ou seja, o Ministério elimina um trabalho que vem funcionando com êxito há muitos anos no Brasil na educação de pessoas com deficiência. É importante destacar que a legislação reconhece as escolas especiais como instituições que oferecem educação básica (infantil, fundamental, médio, de jovens e adultos, profissional - dependendo da área de deficiência).

CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIOS SOMENTE COM AS ESCOLAS ESPECIAIS QUE SE TRANSFORMAREM EM CENTROS DE ATENDIMENTO.
Neste item, o Ministério determina que os convênios para liberação de recursos só poderão ser feitos com os centros de atendimento. Ou seja, exclui as escolas que não seguirem a nova Política.
Como se vê nos itens acima, a nova diretriz do Ministério da Educação preocupa não só as escolas especiais, mas têm causado desconforto a milhares de famílias e pessoas com deficiência que apenas pedem a garantia do seu direito à educação e que possam escolher qual alternativa será melhor para o seu desenvolvimento educacional.
Neste sentido, pedimos a co-participação nesta luta a favor de milhares de brasileiros que temem pelo seu futuro. Somente unidos poderemos impedir um ato discriminatório como este que, pela falta de sensibilidade de alguns gestores, põe em risco um trabalho de entidades que buscam a promoção e a cidadania das pessoas com deficiência.
Respeitosamente
Federação das APAEs do Estado do Paraná

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Para preservar o amor os casais precisam fazer o óbvio, namorar

Quando a chegada nos remete ao ponto de partida

Nem sempre é fácil, mas é preciso ter muita coragem e determinação para querer ao final da jornada reiniciar. Parece um paradoxo, mas quando imaginamos ter alcançado o objetivo traçado, nos surpreendemos ao descobrir que a caminhada somente nos fortaleceu em experiência e não na conquista dos sonhos que almejamos.

Investimos o melhor de nós apostando na estrada a ser trilhada, convictos de que o outro estará caminhando ao nosso lado para sempre. Sonhamos juntos e vamos à luta para a construção dos nossos sonhos comuns. Um relacionamento estável e duradouro, uma família feliz e um patrimônio considerável. A jornada é longa e árdua. Com o excesso de responsabilidades, muitas vezes, começa a faltar tempo para se dedicar ao relacionamento. Com o desgaste natural do dia-a-dia, pequenos gestos afetuosos começam a ser deixados de lado. Surgem as primeiras crises e a descoberta de que não estão mais sintonizados. É difícil aceitar que depois de lutar juntos anos a fio, pode ser o começo do fim.

Luiz Cláudio, 55 anos, executivo e Beatrice, 53, pediatra, casaram em 1980 com o desejo de construir uma bela família e um patrimônio sólido. Decidiram arregaçar as mangas e ir à luta. Quando completaram 10 de casados, fizeram um balanço das conquistas e concluíram que já tinham casa própria, dois bons carros e um filho. Mas, faz parte do ser humano querer mais. Novos planos, novos sonhos. Comprar um apartamento de bom padrão na praia e uma chácara, no prazo de 10 anos. Novos cursos de especialização, idiomas e mão na massa... Pouco se viam durante a semana. A noite deitavam exaustos. No final de semana cada um fazia seu próprio programa e, aos poucos pareciam dois desconhecidos. Alguns anos mais tarde compraram a chácara. No entanto, antes de comprar o apartamento veio a separação. “Deixamos de fazer o óbvio, namorar. Manter a chama acesa”, conclui. Beatrice acabou se envolvendo com um colega médico e saiu de casa. Luiz Cláudio diz que correram tanto para construir um patrimônio e esqueceram de construir um lar, um ninho de amor. “Corremos atrás do ter e esquecemos do ser”, diz.

O que até então eram apenas sinais tornam-se diferenças acentuadas promovendo desencontros que levam ao abandono dos interesses comuns. A estrada parece não ser mais tão atrativa e cada um passa a ir atrás dos seus próprios objetivos.E na hora do questionamento acabam descobrindo que a vontade de atingir os objetivos era tão grande que não perceberam sinais claros que denotavam a falta de diálogo, cumplicidade, companheirismo e o excesso de individualismo.

Quando a chegada nos remete ao ponto de partida, constata-se que o resultado não proporcionou a satisfação da realização. Os sinais não foram percebidos e a compreensão declinada pelo afã de chegar. Alguns casais chegam juntos, mas frustrados e infelizes. Mas, a que custo? Sem contar que o resultado deixou a desejar. Uma viagem, muitas vezes, inútil onde esforços foram empregados na direção errada. Que triste constatação perceber que a rota poderia ter sido mudada, diante da insatisfação do outro.

A caminhada só tem validade quando a satisfação é mútua e a sensação de vitória é através de esforços consensuados. É fundamental estar antenado quanto aos desejos e anseios do parceiro e predisposto a mudar o rumo, se for o caso. Dar as mãos para sustentar o outro quando este porventura tropeçar e vice-versa, e ser flexível em detrimento da harmonia no relacionamento para que não seja preciso retornar ao ponto de partida e perceber que um tempo precioso da vida passou.

Na sua opinião, o que leva casais como Beatrice e Luiz Claudio a desistir do casamento quando conquistam os objetivos que tanto sonharam?

Marlene Heuser
Consultora de Relacionamento Amoroso e Interpessoal
Contato: marlene@marleneheuser.com.br
41-3274-2131